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O alto preço da performance

Com cerca de 12500 atletas de mais de 200 países, a 31a Olimpíada da Era Moderna, que ocorre até o dia 21 no Rio de Janeiro, é o maior evento esportivo do planeta. As estrelas do show, que reúne a elite do esporte mundial em 28 modalidades, representam o mais próximo que se pode chegar dos deuses que inspiraram os jogos, na Grécia Antiga. Mas se aproximar deste ideal físico, no entanto, exige preparo, treino, disciplina e muito esforço.

Exigido até o limite, o corpo do atleta de nível competitivo vai, por vezes, além do que se acreditava humanamente possível. O resultado, no entanto, tem seu preço.

Vigilância constante contra lesões musculares

As lesões musculares correspondem por até um terço de todas as lesões sofridas por atletas de elite. Elas podem resultar tanto de trauma direto (geralmente na forma de impacto brusco e, com menor frequência, lesões penetrantes) quanto de trauma indireto, resultado de força excessiva ao longo do eixo músculo-tendão-osso, tanto em competição como durante o treinamento.[1] A vigilância longitudinal de lesões e moléstias em atletas de ponta fornece dados valiosos, pois identifica esportes e modalidades de alto risco e serve como base para o trabalho dos profissionais envolvidos em seu preparo físico.[2]. Muitas vezes, é preciso traçar o caminho inverso: repensar a mecânica do movimento para aliviar as estruturas que estão sofrendo com o impacto da carga gerada pela prática do esporte, fortalecer os grandes músculos, para assim redistribuir as forças que impactam os músculos responsáveis pelos movimentos mais finos, e também condicionar toda a musculatura para enfrentar a fadiga imposta pela rotina de treinos e competições. É o que afirma o médico do esporte e professor na Escola de Educação Física e Esporte da USP Dr. Luiz Augusto Riani Costa.

“A fadiga fragiliza a fibra muscular e isso acaba deixando toda a carga em cima dos  tendões e ligamentos. É quando surgem as lesões”, diz. Dr. Costa reforça que outro aspecto importante na prevenção de lesões no esporte é criar um preparo físico que promova o aumento da reserva funcional dos músculos. “É esse condicionamento que dá resistência à fibra muscular e possibilita ao corpo ir além daquilo que o esporte pede durante a competição.”

 

Atletismo

Incluído nos Jogos Olímpicos da Era Moderna desde sua primeira edição em 1896, o atletismo é disputado hoje em 42 modalidades: 24 eventos de pista, 16 eventos de campo e dois eventos combinados. As lesões musculares são as mais frequentes e comuns a todas as modalidades, seguidas das tendinopatias.

Entre estas destaca-se a tendinite patelar, uma lesão popularmente conhecida como “joelho do saltador”. A tendinite patelar é a inflamação do tendão patelar, normalmente causada pelo esforço repetitivo, que ocorre durante o salto e principalmente no momento em que o atleta volta ao solo. Outra lesão frequente é a periostite tibial por esforço. Essa inflamação do periósteo específica da tíbia pode ser causada por fatores diversos, sendo o mais comum a sobrecarga funcional das estruturas. A periostite tibial por esforço é também uma inflamação muito frequente em corredores.[5,6]

Uma pesquisa recente, publicada no British Journal of Sports Medicine, analisou dados de 14 campeonatos mundiais de atletismo entre 2007 e 2014 e apontou uma taxa de lesões (por cada 1000 atletas) maior em homens do que em mulheres. O estudo mostrou ainda que os homens tiveram mais lesões na coxa e no quadril/virilha, mais distensões musculares (especialmente nas coxas) e mais cãibras. Já as mulheres apresentaram uma maior incidência de fraturas por estresse em relação aos homens. Nenhuma diferença entre os sexos foi encontrada em relação a causa e gravidade da lesão.

Basquete

Por ser um esporte de contato, cujo padrão de movimentos se caracteriza por repetidos saltos intercalados com corrida e rápidas mudanças de direção, o basquete gera contusões frequentes, principalmente em dedos, mãos e cotovelos. No entanto, são os membros inferiores os mais afetados durante a prática (incidência varia de 46,4% a 68% do total de lesões)[4], sendo as entorses de tornozelo e de joelho as ocorrências mais comuns.

Entre as lesões causadas por sobrecarga, as tendinopatias, especialmente a tendinopatia patelar, são o tipo de lesão mais frequente, acometendo quase metade dos jogadores de basquete de ambos sexos. A taxa de lesão no joelho tem sido relatada entre 1,5 e 4,4 por 1000 jogadores e é a lesão mais frequente relatada em atletas norte-americanos de nível profissional, correspondendo a 20% de todas as lesões que acometem esse grupo. Lesões do ligamento cruzado anterior (LCA) são problemas relativamente comuns, com taxas de lesões que variam de 0,03 por 1000 em homens a 0,48 por 1000 em mulheres

Futebol

Contusões, distensões musculares e entorses ligamentares somam quase 75% das ocorrências mais comuns entre os jogadores profissionais de futebol. Entre os membros inferiores, coxa, joelho e tornozelo são os locais mais comumente afetados, representando de 67% a 88% de todas as lesões do futebol em todas as idades, em ambos sexos.[8,9,10]

Apesar de menos frequentes, as lesões no ligamento cruzado anterior (LCA) são uma crescente preocupação entre os jogadores de elite, pois obrigam o atleta a interromper o treinamento, impedem a participação em competições e têm potencial para encerrar carreiras de sucesso precocemente. É digno de nota que as taxas de lesão de ligamento cruzado anterior, de acordo com a literatura mais recente, acontecem de duas a seis vezes mais em jogadoras em comparação a jogadores.

Dados da Federação Internacional de Futebol (FIFA) mostram que a incidência total de lesões em Copas do Mundo caiu 37% de 2002 a 2014 [11]. A incidência de lesões na Copa de 2014 foi significativamente menor do que nos quatro Mundiais anteriores, tanto em número total de lesões (2.34; IC de 95% 2.15 to 2.53) quanto de lesões que impedem o atleta de treinar e competir (1.51; IC de 95% 1.37 to 1.65). [7,8,9] Por que isso aconteceu?

A diminuição na incidência de lesões relatada em competições da FIFA pode, em grande parte, ser atribuída à melhoria no trabalho de preparo físico dos atletas. No negócio milionário do futebol, jogador parado custa caro. Além dos custos com exames de imagem para identificar e avaliar a lesão, e do tratamento em si, o atleta precisa reduzir frequência e carga em treinos e competições.[10,11]

“Mesmo em lesões de baixa gravidade é preciso reduzir a carga ou parar de vez, fazer fisioterapia, dar ao corpo tempo para se recuperar. Esse tempo pode variar entre uma semana a dez dias no caso de lesões leves, e meses, em casos graves “, explicou ao Medscape o ortopedista e médico do esporte Dr. Ricardo Galotti, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) de São Paulo.

“O atleta joga, em média, uma vez por semana, mas treina em praticamente todos os outros seis dias. Para prevenir a ocorrência de lesão é crucial fortalecer a musculatura e controlar o treino”, afirmou o Dr. Galotti, que trabalha com futebol há 20 anos e já atuou como médico da equipe do Corinthians, em São Paulo.

Ginástica Olímpica

Famosa pelo espetáculo de força e equilíbrio que proporciona ao público, a ginástica olímpica também é conhecida pelas exigências impostas a corpos jovens, com manobras cada vez mais complexas e rotinas de treino de até 40 horas semanais. A incidência de lesões nesta modalidade é alta em ambos sexos, sendo os membros inferiores (especialmente as articulações dos joelhos e dos tornozelos) os locais mais afetados. Entre os tipos de lesões mais frequentes estão as tendinites de punho, ombros e joelhos e a periostite de tíbia, normalmente causada pela sobrecarga funcional no tendão patelar.[12,13,14]

“Também são comuns as traumas agudos causados por quedas ou choques com aparelhos utilizados durante treinos e competições”, acrescentou o Dr. Galotti.

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