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Associação do microagulhamento ao peeling de fenol: uma nova proposta terapêutica em flacidez, rugas e cicatrizes de acne da face

Association of microneedling with phenol peeling: a new therapeutic approach for sagging, wrinkles and acne scars on the face

Emerson de Andrade Lima

Coordenador da Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia do Recife – Recife (PE), Brasil

Data de recebimento: 05/09/2015
Data de aprovação: 10/11/2015
Suporte financeiro: Nenhum
Conflito de interesse: Nenhum

Correspondência:
Emerson de Andrade Lima
Praça Professor Fleming 35/ 1201 – Jaqueira
52050-180 – Recife – PE
E-mail: emersonderma@terra.com.br

Resumo

Introdução: O papel benéfico dos peelings médios e do microagulhamento no fotoenvelhecimento e em cicatrizes revelam resultados satisfatórios. Objetivo: Estudo retrospectivo, descritivo e unicêntrico, avaliando os resultados da associação do peeling de fenol 88% e microagulhamento no tratamento de flacidez, rugas e cicatrizes de acne na face. Métodos: Foram considerados registros em prontuários e fotografias padronizadas prévias e três meses após o procedimento, de 28 pacientes com diagnóstico de rugas, flacidez ou cicatrizes de acne, tratados com peeling de fenol 88% seguido de microagulhamento com agulhas de 2,5mm. Quinze dias após o procedimento, foram registrados eventos e complicações. As avaliações clínica e fotográfica, de acordo com escala com as categorias muito bom, bom, razoável e ruim, foram realizadas pelo investigador três meses após o procedimento, quando também foram aplicados questionários de satisfação aos pacientes.Resultados: 12 paciente apresentaram apenas rugas e flacidez, cinco apenas cicatrizes de acne, e dez apresentaram ambos os quadros, com fototipos de I a III. O eritema persistiu por 30 dias, e a hiperpigmentação pós-inflamatória foi observada em sete dos 28 pacientes.Na avaliação clínica e por meio de fotografias, o autor considerou os resultados bons e muito bons. 100% dos pacientes relataram satisfação com os resultados. Conclusões: Observam-se bons resultados com a associação de fenol 88% e microagulhamento. Poucos pacientes apresentaram efeitos adversos, o que nos permite sugerir que o procedimento apresentou bom perfil de segurança.

Palavras-chave: TERAPÊUTICA; REJUVENESCIMENTO; CICATRIZES

INTRODUÇÃO

O papel benéfico dos peelings médios no fotoenvelhecimento e em cicatrizes da face tem sido amplamente estudado.1 Evidências de aumento de fibras colágenas tipo I e tipo III, e restauração de fibras elásticas, seguidas de remodelamento da derme induzido por agente caústico são efeitos já descritos por alguns autores.2,3 O fenol tem ação cáustica imediata, com capacidade de promover a desnaturação e coagulação das proteínas da queratina epidérmica, atingindo resultados clínicos incomparáveis a outras técnicas ablativas.4 A técnica do microagulhamento aplicada à pele com o objetivo de gerar múltiplas micropunturas, resultando em estímulo inflamatório e produção de colágeno, tem sido descrita como indução percutânea de colágeno (IPC). Inicialmente, ocorre a perda da integridade da barreira cutânea, tendo como alvo a dissociação dos queratinócitos, liberação de citocinas, resultando em vasodilatação dérmica e migração de queratinócitos para restaurar o dano epidérmico.5,6 Os fibroblastos e ceratinócitos são estimulados seguindo-se a produção de colágeno tipo III, elastina, glicosaminoglicanos e proteoglicanos e formação da matriz de fibronectina, possibilitando assim o depósito de colágeno logo abaixo da camada basal da epiderme.7 A literatura consultada não apresenta nenhum relato sobre a associação dessas duas terapêuticas, que isoladamente exibem respostas similares. O objetivo deste estudo retrospectivo, descritivo e unicêntrico foi avaliar os resultados da associação do peeling de fenol 88% e microagulhamento no tratamento de flacidez, rugas e cicatrizes de acne na face.

MÉTODOS

Foram avaliados os prontuários de 28 pacientes com diagnóstico de rugas, flacidez ou cicatrizes de acne nas regiões genianas tratados com a associação de peeling de fenol 88% seguido de microagulhamento, segundo um mesmo protocolo executado pelo mesmo médico entre janeiro de 2011 e janeiro de 2015. O estudo respeitou as recomendações éticas da declaração de Helsinki. Foram excluídos os pacientes que apresentavam infecções cutâneas e tendência a queloides.

Aplicou-se o seguinte protocolo de tratamento: monitoramento com registro de frequência cardíaca, saturação de oxigênio e pressão arterial durante o procedimento; desengorduramento da pele com sabonete líquido, assepsia com clorexidine e bloqueio anestésico dos nervos infraorbitários e mentonianos, seguido de anestesia infiltrativa com solução de lidocaína 2% mais soro fisiológico na proporção de 1:3 da região geniana, respeitando-se a dose máxima do anestésico mediante o peso do paciente. O fenol 88% foi aplicado com gaze até a obtenção de branqueamento sólido, seguido-se imediatamente o microagulhamento por meio de instrumento com 192 agulhas de 2,5mm de comprimento dispostas em oito fileiras, esterilizado por raios gama (Dr.Roller® Mooham Enterprise Co. Gyeonggi-do South Korea, Anvisa nº 80669600001). Procederam-se movimentos de vai e vem até a obtenção de orvalho sangrento uniforme. A região geniana contralateral foi tratada com a mesma técnica. O procedimento foi finalizado com a utilização de curativo com gaze removido após 24h no domicílio, durante o banho, seguindo-se o uso de regenerador cutâneo três vezes ao dia. Quinze dias após a intervenção todos os pacientes foram examinados e solicitados a responder questionário sobre o período que se seguiu ao procedimento. Buscou-se identificar efeitos esperados como eritema, edema ou complicações tais como hiperpigmentação pós-inflamatória ou infecções. Nessa visita todos os pacientes foram orientados a utilizar despigmentante industrializado (ácido retinoico 0,05% + hidroquinona 4% + acetonido de fluocinolona 0,01%) alternado com o regenerador cutâneo durante 15 dias e filtro solar tonalizado,industrializado FPS 50+. Posteriormente, orientou-se o uso do despigmentante todas as noites, o que foi feito com boa tolerabilidade.

As avaliações clínica (de acordo com escala com as categorias muito bom, bom, razoável e ruim) e fotográfica (com a mesma câmera digital imediatamente antes e três meses após o procedimento) foram realizada pelo investigador três meses após o procedimento, ocasião em que também foram aplicados aos pacientes questionários de satisfação com os resultados.

Características da técnica de microagulhamento e do peeling de fenol 88%

O instrumento utilizado para a realização do microagulhamento é constituído por um cilindro de polietileno encravado por agulhas de aço inoxidável e estéreis, alinhadas simetricamente em fileiras perfazendo 192 unidades. O comprimento das agulhas se mantém ao longo de toda a estrutura do instrumento. Para esse comprimento de agulha recomendam-se bloqueios anestésicos complementados por anestesia infiltrativa. O microagulhamento é procedimento técnico-dependente, e a familiarização com o aparelho utilizado e o domínio da técnica são fatores que influenciam diretamente o resultado final. Recomenda-se posicionar o aparelho entre os dedos indicador e polegar como se estivesse segurando um háshi e controlar a força exercida com o polegar. Os movimentos de vai e vem devem ser guiados por um padrão uniforme de petéquias em toda a área tratada, e podem ser de leves a intensos. Teoricamente entre dez e 15 passadas em uma mesma região atingem resultado de 250-300 punturas/cm2. O tempo de aparecimento das petéquias varia com a espessura da pele tratada e o comprimento da agulha escolhida. Sendo assim, a pele mais fina e frouxa, comumente fotoenvelhecida, apresentará padrão uniforme de petéquias mais precocemente do que a pele espessa, observada em pacientes com cicatrizes de acne, por exemplo. Lima e col.8 propuseram classificação relacionando o comprimento da agulha dos aparelhos utilizados para microagulhamento com a profundidade do dano previsto, denominando a injúria como leve, moderada e profunda. Os pacientes avaliados neste estudo foram submetidos a injúria profunda, já que foram tratados com agulhas de 2,5mm de comprimento.

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RESULTADOS

Entre os 28 pacientes tratados, 12 apresentavam apenas rugas e flacidez, cinco apresentavam apenas cicatrizes de acne, e dez pacientes apresentavam rugas, flacidez e cicatrizes de acne. O fototipo dos pacientes variou de I a III segundo a classificação de Fitzpatrick.

Na avaliação clínica e por fotografias, o autor considerou os resultados de bom a muito bom na escala que incluía as categorias muito bom, bom, razoável e ruim. (Figura 1)

No questionário de satisfação, 100% dos pacientes relataram satisfação com os resultados. Todos informaram que se submeteriam à intervenção outra vez, caso fosse necessário.

O grau da dor e desconforto durante o procedimento foi considerado tolerável pelos pacientes. Os registros de frequência cardíaca, saturação de oxigênio e pressão arterial pouco oscilaram durante a intervenção.

O retorno às atividades laborativas variou de sete a dez dias. Edema moderado e eritema persistiram durante período que oscilou de 25 a 35 dias, sendo bem encoberto pelo uso do filtro solar tonalizado. Hiperpigmentação pós-inflamatória moderada foi observada em sete dos 28 pacientes, tendo sido revertida com despigmentante no prazo de 30 a 45 dias. Considerou-se também que todos os 28 pacientes tratados foram responsivos à técnica utilizada e que repetiriam o mesmo procedimento em outros casos com indicação similar. Treze dos 28 pacientes avaliados já estão com 24 meses de seguimento após o procedimento e apresentando manutenção satisfatória dos resultados. (Figura 1)

DISCUSSÃO

Sabidamente, a penetração de agulhas na epiderme e derme, resultando em múltiplas puncturas, desencadeia estímulo para ativação de fibroblastos e queratinócitos, e consequente liberação de fatores de crescimento, proliferação do colágeno e renovação da epiderme perfurada,9,10 assim como já foram bem ratificados pela literatura os efeitos dos peelings médios, particularmente o de feniol 88%.1-4 Nesta avaliação retrospectiva de 28 pacientes pode-se presumir que ambas as técnicas isoladamente apresentariam bons resultados nos casos analisados. Porém, o objetivo deste estudo é apresentar nova proposta terapêutica que se baseia na associação concomitante desses dois procedimentos. Apesar de ser investigação retrospectiva, os resultados nos permitem apresentar algumas conclusões:

1. A literatura mundial atesta que o microagulhamento com agulhas de 2,5mm de comprimento como técnica isolada é capaz de produzir melhoria na qualidade da pele, atenuação de rugas e correção de cicatrizes deprimidas de acne.

2. Na experiência do autor, o tempo de recuperação com o microagulhamento como técnica isolada é menor do que o relativo à associação com fenol 88%.

3. Poucos pacientes apresentaram efeitos adversos, e a hiperpigmentação pós-inflamatória foi revertida em pouco tempo, o que nos permite sugerir que o procedimento, no grupo avaliado, apresentou bom perfil de segurança.

4. Quando o autor compara sua experiência nos casos aqui avaliados com aqueles tratados previamente apenas com o microagulhamento, observa substancial melhora adicional de resultados nos primeiros, o que o estimula a concluir que a adição do fenol 88% antes do microagulhamento potencializa os resultados.

5. Com base na experiência apresentada, o autor recomenda a associação do fenol 88% previamente ao microagulhamento cirúrgico com agulhas de 2,5mm de comprimento no tratamento de cicatrizes deprimidas de acne, flacidez e rítides como mais uma proposta terapêutica no amplo arsenal já existente.

Novos estudos serão necessários a fim de avaliar um maior número de pacientes, averiguando a incidências de efeitos adversos para conclusões mais apuradas sobre segurança da intervenção, bem como investigação da adição de resultados dessa associação.

Referências

1. Bagatin E, Hassun K, Talarico S. Revisão sistemática sobre peelings. Surg Cosmet Dermatol. 2009;1(1):37-46.

2. Nelson BR, Fader DJ, Gillard M, Majmudar G, Johnson TM. Pilot histologicand ultrastructural study of the effects of medium-depth chemical facial peels on dermal collagen in patients with actinically damaged skin. J Am Acad Dermatol. 1995; 32(3):472-8.

3. Fulton JE, Porumb S. Chemical peels – Their place within the range of resurfacing techniques . Am J Clin Dermatol. 2004;5(3):179-87.

4. Kadunc BV, Vanti AA. Avaliação da toxicidade sistêmica do fenol em peelings faciais. Surg Cosmet Dermatol. 2009;1(1):10-4.

5. Fernandes D. Minimally invasive percutaneous collagen induction. Oral Maxillofac Surg Clin North Am. 2006;17(1):51-63.

6. Bal SM, Caussian J, Pavel S, Bouwstra J A. In vivo assessment of safety of microneedle arrays in human skin. Eur J of Pharm Sci. 2008;35(3):193-202.

7. Lima E, Lima M, Takano D. Microagulhamento: estudo experimental e classificação da injúria provocada. Surg Cosmet Dermatol. 2013;5(2):110-4.

8. Vasconcelos NB, Figueira GM, Fonseca JCM. Estudo comparativo de hemifaces entre 2 peelings de fenol (fórmulas de BakerGordon e de Hetter), para a correção de rítides faciais. Surg Cosmet Dermatol 2013;5(1):40-4.

9. Lv YG, Liu J, Gao YH. Xu B. Modeling of transdermal drug delivery with a microneedle array. J Micromech Microengim. 2006;16(11):151-4.

10. Vandervoort L, Ludwig A. Microneedles for transdermal drug delivery;- minireview. Frontiers in Biocience. 2008;13(5)1711-5.

 

Trabalho realizado na Santa Casa de Misericórdia do Recife – Recife (PE), Brasil.

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